A grande interrogação proposta é se poderá haver uma presunção de que há qualquer coisa para ensinar, para transmitir, no que à arte diz respeito.

A decisão de, pelo menos, tentar manter as incoerências próprias de um diálogo deste género feito em conjunto é a única justificação para o título do espectáculo, mesmo que estas incoerências se percam depois de cada um dizer o que pensa.

São estes momentos de incoerência que são o centro da discussão. São opiniões directas atiradas à cara do investimento de sentido que cada um faz e que está permanentemente sujeito a mudanças, um processo que se opera através do colapso do investimento dos outros.

Entre concordância e discordâncias o que se tenta enfatizar, talvez apenas simbolicamente, é mesmo uma mudança. Uma mudança visível inserida dentro da certeza que é necessária para passar conhecimento artístico.

Ch-ch-changes, pretty soon now you’re gonna get a little older

David Bowie

21 de março de 2010

#2 a partir do universo de Javier Nuñez Gásco

Senhoras e senhores!
Esta é uma tourada sem sangue. A arena está cheia e todos celebram.
A multidão enlouquece com a espera. As pessoas gritam, bradam e vociferam. Este rugido vai fazer ruir todo edifício. Celebram-se homens de valor, de coração nobre.
Em guarda, em guarda Toureiro!
Lembra-te que do alto vêm promessas de amor.
Lembra-te enquanto lutas que do alto vêm promessas de amor.

Aqui o toureiro é vítima e carrasco, mas, acima de tudo, o touro, animal de porte admirável, é sinónimo de amor, devoção e ímpeto. Acariciemos o bovino que Teseu derrubou por amor à pátria e que Diónisos apalpou porque sim. Ele é a massa bruta e cornuda capaz de derrubar governos, provocar terramotos, engolir Zeus e caçar a própria Diana. Demasiado rápido para ser visto, demasiado misterioso para ser compreendido, se o virem passar podem tentar agarrá-lo, mas só se for pelos tomates.
Nesta lide vai haver: romance, literatura, fandango, armas de ar comprimido, verticalidade, horizontalidade e valsa.

Há deusa que dá sem se dar. Por amor ó querida, vamos dedicar-te este poema erótico escrito na esperança vã de que nos recebas no teu regaço. A ti, museta de mármore, queremos comer o cú.

Que, com a graça de Deus, possamos chegar ao fim. No final, mandai rosas ou peças de roupa que nós devolvemos se Deus quiser.

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