A grande interrogação proposta é se poderá haver uma presunção de que há qualquer coisa para ensinar, para transmitir, no que à arte diz respeito.

A decisão de, pelo menos, tentar manter as incoerências próprias de um diálogo deste género feito em conjunto é a única justificação para o título do espectáculo, mesmo que estas incoerências se percam depois de cada um dizer o que pensa.

São estes momentos de incoerência que são o centro da discussão. São opiniões directas atiradas à cara do investimento de sentido que cada um faz e que está permanentemente sujeito a mudanças, um processo que se opera através do colapso do investimento dos outros.

Entre concordância e discordâncias o que se tenta enfatizar, talvez apenas simbolicamente, é mesmo uma mudança. Uma mudança visível inserida dentro da certeza que é necessária para passar conhecimento artístico.

Ch-ch-changes, pretty soon now you’re gonna get a little older

David Bowie

16 de abril de 2010

Inspirações

Luzes, tapeçarias de sentidos e sinopses se cruzam num ponto de fuga, do qual são regurgitadas sequências de caminhos e realidades prematuras. Enquanto o “self” desconhece o seu nexo um turbilhão de caminhos paralelos e abstractos são-nos revelados destinos apenas na medida da retina. O sonho persegue-a: o que define o artista: a utilidade ou o sonho? Imediatamente tecem-se pré-conceitos, clichés estácticos no tempo e essencialmente um sentimento de medo que envolve o criador num casulo em que a sociedade rapidamente o coloca quando simplesmente não sabe o que há-de fazer com o mesmo, e exige.
Exige que consigamos estabelecer um monólogo entre dois mundos tão distintos como o matrix do que se por aqui; na imensa “yellow brick road” criativa que temos que percorrer acrescenta-se a multiplicação de identidades assumidas pelo artista que sendo aproveitado como um feto incompleto por parte da sociedade quanto à sua função no mundo, se dissipa no caminho a seguir no nevoeiro dos dias. Surgem várias identidades e com as mesmas vários caminhos a percorrer: desde o artista em si, passando pelo indivíduo assertivo de
negócio prometido num aperto de mão a uma espécie de freak, um palhaço de circo, as arestas que definem o indivíduo vão sendo decompostas até ao limite das suas capacidade e com elas esbatendo-se a essência de si mesmo.
Com o indefinido o inconsistente, com o incosistente o processo de dilúvio existente do artista que na sensibilidade de quem filtra o universo com os sentidos e facilmente se perde num “pathos” de ansiedade e loucura de corresponder ao que lhe é pedido de ser tão real e politicamente correcto como as convenções exigem.
Na medida da incompreensão de organismos vivos de saber e criatividade que são os artistas haverá sempre quem insista que se tem que fazer sempre “algo mais” para além de ser o maior e mais completo investigador do magma do ser humano.
Para a realidade quadrada que empurra o criador para um abismo patológico, ao lhe atribuir nenhum papel na sociedade ou atribuir-lhe todos os possíveis menos o que lhe é naturalmente destinado, a negação é fácil. Se der em louco, dirão que era mais um incompreendido que gritava coisas incompreensíveis para ouvidos normais. Para quem estiver atento saberá que o artista grita contra todo complexo quadrado em que fomos subtilmente encaixados.
Se ouvirem com atenção não ouvirão absolutamente nada; não conseguirão decompor o significado de nenhuma imagem; não cantarão uma única nota de música. Quem o ouvir, sentirá apenas luz, cuja linguagem e claridade só é passivel de ser traduzida através da arte, e a mesma descodificada pelo ser mais esquizofrénico do mundo - o artista.

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