A grande interrogação proposta é se poderá haver uma presunção de que há qualquer coisa para ensinar, para transmitir, no que à arte diz respeito.

A decisão de, pelo menos, tentar manter as incoerências próprias de um diálogo deste género feito em conjunto é a única justificação para o título do espectáculo, mesmo que estas incoerências se percam depois de cada um dizer o que pensa.

São estes momentos de incoerência que são o centro da discussão. São opiniões directas atiradas à cara do investimento de sentido que cada um faz e que está permanentemente sujeito a mudanças, um processo que se opera através do colapso do investimento dos outros.

Entre concordância e discordâncias o que se tenta enfatizar, talvez apenas simbolicamente, é mesmo uma mudança. Uma mudança visível inserida dentro da certeza que é necessária para passar conhecimento artístico.

Ch-ch-changes, pretty soon now you’re gonna get a little older

David Bowie

2 de maio de 2010

Diz a criança aos seus escravos:

A- Estou a começar agora. Tenho 8 anos. Estamos em 2010.


Começo a imitar as pessoas, em frente ao espelho. Quando tento mostrar as minhas coisas às pessoas consigo fazer com que elas entendam logo o que quero. Até quando corto o cabelo e fico parecida com um homem, elas conseguem perceber tudo.

A minha mãe sempre quis que eu fosse médica, mas eu quero ser professora de teatro. Acho que o teatro é mau, e então eu ia ensinar as pessoas a fazer bom teatro. Uma vez fui ao teatro com a minha mãe e não gostei nada porque não percebia. Não é assim que se faz… eles falavam muito depressa. Eles de certeza que deviam saber o que tenho para lhes dizer. Os actores procuravam a essência do teatro, mas isso não interessa para nada, não se percebe nada.

Eu é que sei. Eu é que sei. Eu vou ser a melhor professora de teatro do mundo, não vale mais ditos nem repitos no universo, STOP. Os meus alunos vão ser os melhores porque vão ser contra essas coisas e essas pessoas que põem tudo em causa, que questionam sempre tudo. Não, comigo não é assim. Comigo vão aprender a fazer bem. Comigo vão ser os melhores

Há professores, coitados, que são mesmo maus…

Eu era diferente a ensinar, não era nada egocêntrica como os que ensinam agora. Tentava explicar as coisas como elas são: mostro-lhes as coisas que faço e como faço, que são muito boas e são um óptimo exemplo do que é o teatro. E não me interessava nada nos meus alunos que estavam ali só para dizer mal. E já disse á minha mãe: “não quero ir ver teatro por pessoas jovens só para não me desiludir”. Uma vez vi um teatro e depois havia um rapaz que gostou muito e eu discuti com ele. Ele não sabia nada de teatro. Se fosse meu aluno mais-valia que fosse para o meio da selva viver durante 6 meses. Depois gostava de voltar a vê-lo só para ver a cara dele.

No teatro a história tem que ser bem contada para as pessoas perceberem. E eu sei como é que isso se faz. Até vos digo um segredo, eu sei qual é a chave do sucesso. Eu sei como é que se pode ser o melhor do mundo… e depois saía assim nas revistas: “ A Marta consegue provocar, ela faz teatro muito interessante”. De certeza que não saía qualquer coisa assim sem mais nem menos.

Artistas. Morte aos artistas. Eu sei é que sei o que é arte. Sei, sei e sei. Arte. Arte é agora. 1, 2, 3, agora. Agora é arte, é isto que eu estou a dizer. E só quero trabalhar com pessoas que se reduzam à minha vontade, que tenham boa imagem, boa atitude e especialmente muito bom acting. Para acontecer a magia do teatro basta um destes e convocar Dionísio, Apolo e o nosso querido grande público.

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