A grande interrogação proposta é se poderá haver uma presunção de que há qualquer coisa para ensinar, para transmitir, no que à arte diz respeito.

A decisão de, pelo menos, tentar manter as incoerências próprias de um diálogo deste género feito em conjunto é a única justificação para o título do espectáculo, mesmo que estas incoerências se percam depois de cada um dizer o que pensa.

São estes momentos de incoerência que são o centro da discussão. São opiniões directas atiradas à cara do investimento de sentido que cada um faz e que está permanentemente sujeito a mudanças, um processo que se opera através do colapso do investimento dos outros.

Entre concordância e discordâncias o que se tenta enfatizar, talvez apenas simbolicamente, é mesmo uma mudança. Uma mudança visível inserida dentro da certeza que é necessária para passar conhecimento artístico.

Ch-ch-changes, pretty soon now you’re gonna get a little older

David Bowie

6 de maio de 2010

Era Uma Vez Uma Ovelhinha Chamada Chris

Quando é que as pessoas vão acordar e perceber que não existe uma definição absoluta para “rapaz” ou “rapariga”?
As pessoas perguntam-me: “porque é que usas maquilhagem?” Eu digo: “Eu uso maquilhagem pela mesma razão que cago. O meu corpo diz-me para cagar, a minha cabeça diz-me para usar maquilhagem”. O que as pessoas não conseguem perceber é que não é o que tu vestes, não é o que pões na cara que te faz ser aquilo que és. É aquilo que tens na cabeça que faz de ti aquilo que és. E infelizmente... Não há muita gente por aí com muita coisa na cabeça.
Porque o que interessa mesmo é que tu o descubras por ti próprio.
As pessoas deixam que aquilo que vestem as defina, ok? Deixam que as roupas as definam. Alguma vez pensaram na diferença entre umas calças, tipo, jeans e um vestido? E porque é que uns são para homem e o outro para mulher? Não há problema se uma mulher usar calças, certo? Mas um homem já não pode usar um vestido. Alguma vez pensaram porquê? É só tecido, queridos. É só design.
Eu não posso desprezar as pessoas só porque elas fazem coisas que às vezes estão em contraste absoluto com o que eu próprio penso.
Não tenho que gostar do trabalho, não tenho que me importar com ele. Não tenho que o perceber. Gosto de variedade. Não quero que sejam todos o mesmo.
Essa é a diferença! E digam-me: É só... A diferença é o design, ok? Qual é a diferença entre um Homem e uma Mulher? Design! Um tem mais pêlo que o outro, um tem um bocado de carne que o outro não tem. É design, ok?
Isto parece muito simples, mas na verdade é muito difícil as pessoas sentirem-se confortáveis com isto. Não é que elas sintam que o que fazem é mau, ou descarado, ou pouco valioso. É, muitas vezes, porque aquilo em que és melhor é o que valorizas menos. Então esta liberdade de que falo tem a ver com ajudar alguém a reconhecer que aquilo que faz, aquilo que lhe é fácil fazer, é exactamente o que devia fazer.
E mais do que discutir se somos Homens ou Mulheres, devemos pensar em nós como pessoas. Se somos boas pessoas, ok?
Mas para muita gente não importa se és uma boa pessoa. Eles importam-se com aquilo com que podem gozar. Para se fazerem notar.
E há coisas que só podes aprender... aprendendo.
E, sabem... no que me diz respeito... A minha pila não me define. A minha pila não define a minha alma. E é mesmo assim.
Isto não tem a ver com grandes filosofias. Se eu quero usar maquilhagem, vou usar maquilhagem.
Nunca achei que as pessoas devessem justificar fosse o que fosse. Não percebo isso. A ideia de falar sobre o que se faz, isso eu penso que é interessante. Mas a ideia de que isso equivale a dar justificações, isso já é muito diferente. Oponho-me totalmente a essa ideia.
E isto é o que torna tudo real, isto é o que torna tudo perigoso e vibrante. Isto é o que torna tudo excitante e emocionante. É daqui que vem tudo o que torna as coisas importantes. Nada disto vem da procura incessante pelo moralmente correcto.

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